27.12.17

Catalunha no seu labirinto


Nas eleições do dia 21 de Dezembro, na Catalunha, a escolha dominante era entre uma maioria independentista e uma maioria espanholista. Os independentistas alcançaram, em conjunto, a maioria de deputados na câmara, 77, mas foi um partido espanholista o mais votado com 25,4%.

"Os partidos separatistas perderam as eleições, perderam votos, perderam mandatos e perderam força", afirmou Inés Arrimadas, líder do Cidadãos por Catalunha, a força mais votada. Mas o que os separatistas não perderam foi a maioria de deputados na assembleia, o que é determinante.

Apesar do chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, ter concordado com Arrimadas, são os independentistas que estão a preparar-se para formar governo com base na sua identidade ideológica. Mas será que este elemento garante essa solidariedade no processo de negociação para a formação do governo? Ou será que Arrimadas, a mais votada, deve tentar formar governo com apoio de uma parte dos deputados independentistas numa espécie de “geringonça” catalã?

Dizia ela: “se a lei eleitoral fosse diferente, encararia de forma realista” a hipótese de formar governo. Mas pode descartar-se essa hipótese antes que se confirme o entendimento entre os separatistas?

Em 27/01/2016, quando Carles Puigdemont era presidente da Catalunha e Inés Arrimadas era deputada na oposição, foi possível estabelecerem acordos políticos, nomeadamente em matéria de financiamento, em que a questão independentista esteve assumidamente ausente. Porque não hão-de agora, invertidas as posições de poder, chegar a um acordo de incidência governamental com a mesma condição?

Certo é, para agravar as coisas de ambos os lados, que Puigdemont está imputado pela justiça espanhola dos crimes de sedição, rebelião e desvio de fundos, e refugiado na Bélgica. E Oriol Junqueras (interlocutor mais improvável, da Esquerda Republicana Catalã), com 32 assentos, está mesmo na prisão.
Oriol e Puigdemont

Apesar de tudo, se Carles Puigdemont quiser tomar posse como presidente da Generalitat, na Catalunha, e os independentistas se entenderem nesse sentido, o mais provável é que ele seja detido e levado a tribunal. No caso do Tribunal Supremo o deixar em liberdade (mesmo que sob pagamento de fiança), ele pode tomar posse. Mas no caso de ser decretada a prisão preventiva, os independentistas poderão designar outro presidente.

São muitas e improváveis as condições para que se forme um governo na Catalunha, mas o problema deveria ser resolvido até meados de Janeiro, o que provavelmente não vai acontecer, prolongando-se o processo, quem sabe, até que se realizem novas eleições... tão inconclusivas como estas!

Até à tomada de posse do novo governo da Generalitat, o artigo 155º continuará a ser aplicado – Rajoy dixit.

8.12.17

Ora bolas... de ouro


Isto das bolas de ouro e das botas de ouro de Ronaldo, faz-me lembrar, “com o devido e merecido respeito”, aquilo que se diz no Porto acerca da Praça da Batalha: que é a praça mais rica de Portugal porque tem o café Chave de Ouro, o café e o cinema Águia de Ouro, e até um mijadouro  ao lado da Igreja de Santo ildefonso (assinalado na foto).


Nota: 
Em rigor, já não existe o café Águia de Ouro (por onde passaram algumas figuras ilustres portuguesas como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental) e o próprio urinol foi pelo cano abaixo, por assim dizer. Conclusão: até o que é de ouro é efémero.

3.12.17

Centeno não é Barroso… nem Guterres

Mas também não é Varoufakis

Relativamente à eventual escolha de Mário Centeno para presidir ao Eurogrupo, tem-se discutido se isso é bom ou mau para Portugal e se o ministro das Finanças irá ter alguma influência positiva nas decisões da instituição europeia – influência para Portugal e influência para a linha política da Europa.

Quanto a Portugal, o exemplo de Durão Barroso parece evidenciar que o nosso país não terá nada a ganhar. Barroso, alinhado ideologicamente com as políticas “austeritárias”, não deve surpreender que fosse apenas um submisso porta-voz da ideologia neo-liberal dominante. Mas se pensarmos em Guterres, o “socialista” português que ocupa o lugar de secretário-geral da ONU, que vantagem nos trouxe ou nos traz?

A perturbação no desempenho do actual ministro das Finanças português, que poderia causar a nomeação para presidente do grupo informal de ministros das Finanças da zona euro, não pode deixar de estar secretamente na cabeça de António Costa como está nas preocupações assumidas expressamente por Marcelo Rebelo de Sousa: “Se Centeno ganhar, não pode perder o pé em Portugal. É muito trabalho para ele" – comentou o Presidente da República!

Na sua candidatura à presidência do Eurogrupo, Mário Centeno defendeu (cito o Observador) “uma maior transparência e legitimidade dos processos de decisão da União Europeia. Centeno também deixa críticas às regras europeias em questões orçamentais e à omissão de medidas de crescimento económico nos programas de assistência financeira da troika”. Mas os termos em que se expressa parecem-me suficientemente prudentes para serem ambíguos. Em todo o caso é sabido que a política é sobretudo um jogo de bastidores.

Centeno que fará 51 anos no próximo Sábado, 9 de Dezembro, é um lutador – praticou rugby que é talvez o desporto mais parecido com o boxe! - mas no combate que o espera, se for escolhido, o ringue é a Europa e os adversários da sua visão humanista da economia, por assim dizer, levam grande vantagem negocial. Cá estaremos para assistir ao jogo – se houver jogo.

Fonte de imagem:  foto-montagem deste blogue