30.12.16

As metáforas de Passos Coelho


Creio que Passos Coelho se referia a António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins quando profetizou a vinda dos três reis Magos em Janeiro. 

Se o disse como saudação ou como ameaça, é que não se percebeu. Mas o que consta da lenda religiosa é que Herodes se mostrou solidário com os Magos apenas como estratégia para liquidar o recém-nascido. Nada que possamos depreender do sorriso pretensamente irónico do Coelho.

De Herodes consta que assassinou a própria família. De Passos Coelho não consta coisa muito diferente, politicamente falando, claro. Enfim, quem metáforas atira…

28.12.16

Descubra as semelhanças

A lembrar as conversas de balneário de Donald Trump, o ministro Augusto Santos Silva foi surpreendido a manifestar semelhanças entre o Conselho de Concertação Social e uma feira de gado.

Como o ministro não especificou aquelas semelhanças, aqui ficam imagens das duas organizações para ajudar à respectiva identificação.


Resta-me acrescentar, em caso de dúvida, que a primeira foto é de uma reunião da Concertação Social e a segunda é de uma feira de gado ocorrida em Arcos de Valdevez e publicada no Blogue do Minho.

Mas junto ainda uma terceira foto que dá outra visão possível de uma feira de gado - vá-se lá saber se na cabeça do ministro estava a ideia de bagunça geral representada na foto anterior, ou a visão de submissão de um dos lados, como parece representar a imagem seguinte.

24.12.16

Os limites do humor

Concordo com aqueles que defendem que a liberdade de fazer humor obedece ou deve obedecer às mesmas regras que a liberdade de expressão em geral. O “nosso” Ricardo Araújo Pereira já exprimiu esta mesma opinião. 

Acrescentaria apenas  que aquilo que torna a crítica humorística mais tolerável é o facto de se assumir como expressão não rigorosa mas antes distorcida de uma ideia ou de uma forma, assumir-se não como verdade mas caricatura reconhecível como tal. 

  “Morra o Dantas, morra!” pronunciado por Almada Negreiros, não levou o autor do poema satírico para a cadeia em 1916 como não levaria em 2016, exactamente porque o poeta não está a incentivar à morte, está sim a usar formas de estilo literário que recorrem à ironia e ao sarcasmo, ao exagero e à metáfora, para aumentar o dramatismo literário de um texto.

A identidade do autor, o contexto da frase e o absurdo da ideia, ao contrário de sugerirem a prática de um crime, antes põem a ridículo a própria sentença. Este é o álibi do humor.


A imagem é um auto-retrato de Almada.

21.12.16

Natais há muitos…


Por inconfidência de Pedro Barahona de Lemos  fiquei a saber que o dia 25 de Dezembro celebra Mitra e não Jesus de Nazaré. Segundo os estudos em que se apoia o autor de Todos Somos Lázaro, esse tal Mitra que viveu muitos anos antes de Jesus, nasceu de uma virgem, morreu e foi sepultado numa gruta, tendo ressuscitado ao terceiro dia, etc., etc., etc..

Muitas “virgens” pariram antes de Maria, e também no dia 25 de Dezembro. Muito corpo de Deus em forma de pão foi repartido e comido, nomeadamente no Egipto; muitos presentes foram oferecidos a pretexto de outros natais que não vingaram porque lhes faltou o profissionalismo, o poder e a manha da Igreja Católica.

Mas ensina a técnica ficcional, que não se deve estragar uma boa história só porque a verdade é outra.

20.12.16

Efeitos da nova guerra-fria

Há quem diga que na guerra-fria entre os Estados Unidos e a Rússia..., ganhou a China. 
Na renovada guerra entre os mesmos, ganha o ISIS/DAESH,  ao que tudo indica. E desta vez a gravidade é outra.


17.12.16

O regresso aos desenhos rupestres

Os signos que usamos hoje nos aparelhos electrónicos, nomeadamente, são um retrocesso comunicacional que se pode medir em milhares de anos. Em vez das palavras, voltamos aos desenhos para exprimir ideias, identificar objectos e pessoas. Voltamos ao analfabetismo.

Existem pinturas rupestres feitas há 17 mil anos, nas cavernas de Altamira, na Espanha, e nas cavernas de Lascaux, na França, por exemplo, que estão ao mesmo nível de evolução. Já para não falar nas que se encontram aqui em Vila Nova de Foz Coa.

Era assim quando o homem não conhecia a expressão verbal, quando se desenhava uma roda para dizer "roda", um veado para dizer "veado" e... um avião para dizer "avião". 

Será que o próximo Acordo Ortográfico vai acabar com todas as palavras, em obediência à "evolução" do uso? Sim, já é tempo de aprender com as civilizações mais evoluídas, "tipo"  o homem do Cro-Magnon. 

11.12.16

Porque hoje é domingo (82)

Neste domingo, a Igreja Católica invoca um relato de Mateus (11,2-11) com alguns dados históricos credíveis: a prisão de João Batista e a sua cumplicidade com Jesus que, de resto, era seu familiar.
Estranho é que João mandasse perguntar a Jesus, como se não o conhecesse, se este era o enviado de Deus de que falava a Bíblia ou “se deviam esperar outro”. Esclarecedor é que Jesus aproveitasse a oportunidade para dizer do outro que, “de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista”.

O que consta nos evangelhos oficiais (canónicos), é que não só eram filhos de duas primas como ambos eram frutos de partos milagrosos – Maria era virgem e Isabel era estéril.


Milagre ou fantasia, mistério ou propaganda religiosa, o que mais importa é que o próprio texto em que a Igreja se baseia é um embuste: nem Mateus terá sido o verdadeiro autor dos textos que assina, nem testemunha dos acontecimentos – ele que não foi apóstolo de Jesus mas uma espécie de ficcionista empenhado na criminalização dos judeus da época - eles que combatiam a ocupação romana.

Nada que preocupe a Igreja Católica, como se ouvirá hoje por esse mundo fora onde a “palavra do senhor” (aliás de Mateus, aliás...) ira ecoar no discurso hipócrita dos sacerdotes – dos templos crstãos até aos “décors” de televisão.

9.12.16

Mitologia pseudo-comunista

Quem escreve o “discurso apócrifo” que se segue, não esconde nem se arrepende de ter sido militante do Partido Comunista Português desde 1974 até à “eleição” de Jerónimo de Sousa. Assume as suas críticas aqui como assumiu no interior do Partido, e se fala hoje de fora para dentro do PCP é porque se mostrou definitivamente ocioso falar lá dentro, como adiante se verá.

Em todo o caso, agora como antes, não se trata de um distanciamento político, no sentido estrito, mas de uma profunda discordância com o funcionamento interno do qual os congressos são o embuste mais relevante. 


Lembro.me de um Congresso para o qual fiz uma proposta no sentido de diminuir o peso dos funcionários na composição dos orgãos dirigentes. Por força do "centralismo democrático", tal proposta como todas as outras, não foi do conhecimento senão da direcção central que é composta por... funcionários! O que veio inscrito na "resolução final" do Congresso foi um panegírico texto laudatório do papel dos funcionários do PCP. (1)

Hoje cá fora, como antes lá dentro, a minha posição é a mesma: de crítica e combate contra todas as formas de injustiça social e, nomeadamente, contra todo o autoritarismo, seja ele estúpido ou esclarecido, assumido ou disfarçado.

Serve-me de esqueleto o discurso de encerramento do XX Congresso do PCP, no passado dia 5 de Dezembro, lido pelo Secretário-Geral.


DISCURSO APÓCRIFO
DE ENCERRAMENTO DO XX CONGRESSO DO PCP

Camaradas e amigos
Estimados convidados
Desprezíveis “folhas secas” (2)

Podemos afirmar que alcançámos com êxito os objectivos a que nos propunhamos.

Desde logo, pelo grau de envolvimento e participação de delegados a quem foi servida a ementa por nós elaborada para este banquete de palavras. A sua presença e concordância permanentes com as teses que a direcção do Partido lhes impôs, justificaram o mandato que lhes foi atribuído... pelos dirigentes partidários, funcionários diligentes e remunerados. 


Ninguém vos obrigou. Foi um acto de liberdade e responsabilidade de homens e mulheres genuinamente preocupados, em geral, com a sorte dos mais desfavorecidos, mas a quem não se apresenta nenhuma questão que não seja de aceitação geral, e muito menos se dão a conhecer as divergências internas, para o que praticamos o método do centralismo-democrático tal como o entendemos: ninguém pode saber o que pensam os militantes das outras organizações!

O que importa é que se batem nos seus locais e empresas por uma vida melhor para os trabalhadores e o povo português. No resto confiam nos seus grandes-líderes, o que está bem e nem podia estar melhor. 


Camaradas e amigos
Estimados convidados
Desprezíveis “folhas secas” 

O Congresso confirmou e reafirmou a nossa identidade como partido dos dirigentes da classe operária e de todos os trabalhadores, independentemente da seriedade do nosso funcionamento interno e da credibilidade popular do nosso ideal de sociedade. 


O Congresso confirmou e reafirmou os objectivos supremos, a construção do socialismo e do comunismo, seja o que isso for, de uma sociedade liberta da exploração e opressão capitalistas, confiante nos méritos da ditadura boa. 


Confirmou e reafirmou a sua base teórica, segundo a interpretação da Comissão Política, os seus princípios de funcionamento baseados no centralismo antidemocrático por definição, assentes numa profunda mistificação interna, numa única orientação geral e numa única direcção central.

A concretização do fascinante projecto e objectivo por que lutamos, esse sonho milenar do ser humano de se libertar da exploração por outro homem, o projecto e ideal que nos trouxe a este Partido, possivelmente só será materializado para além das nossas vidas. Ou mesmo nunca, mas nós já cá não estaremos para prestar contas da nossa incompetência.

Viva o XX Congresso! Vivam os congressos todos.
O que a gente quer é festa. Música, Maestro!



(1) Mais de 90% dos membros do Comité Central do PCP, “eleitos” no Congresso, são empregados do Partido ("funcionários"). Isto é, a sua discordância ou menor colaboração com as directrizes centrais põe em causa o seu emprego. 
(2) “Folhas secas” é como Jerónimo de Sousa, citando Álvaro Cunhal, chama aos ex-militantes do PCP, muitos deles bem mais corajosos, dedicados e sacrificados pelo partido do que o indigitado Secretário-Geral. 

Nota complementar

Sim, os congressos do PCP como do PC de Cuba, por exemplo, são preparados com muita antecedência e muito participados. Mas isso que devia servir para o aparecimento e valorização de ideias novas, serve sim, por força do controlismo e do centralismo, para filtrar posições divergentes  - as ideias novas morrem onde nasceram e os textos a aprovar são previamente aprovados por aquele orgão de poder partidário - o grande líder esclarecido.

8.12.16

Mal por mal prefiro o Pai Natal

A prova de que este Governo é muito imperfeito é que inscreve nos feriados oficiais o 8 de Dezembro enquanto dia da Imaculada Conceição.

Comete dois “pecados” o Governo. O primeiro é porque acolhe na ordem política uma matéria que é de ordem estritamente religiosa – não é o mesmo que o Natal, porque este ganhou o estatuto autónomo e laico de festa da família.

O segundo pecado é porque esta data celebra um dos maiores embustes da Igreja Católica: a virgindade da mãe de Jesus.

De Gabriel, o “mensageiro do Espírito Santo”, já falei no artigo anterior. Adianto apenas que há quem defenda que a palavra “anjo” não deve ser tomada à letra, o que não quer dizer necessariamente que tenha sido ele próprio a engravidar a jovem Maria e a sua prima Isabel. Adiante.

O que é irresistível trazer à reflexão é que “nascer de uma virgem fecundada por um Deus ou por um seu emissário foi um mito bastante difundido em todo o mundo anterior a Jesus” nomeadamente na China, no Japão, no México… (*)

António Costa pode “acreditar” que algumas vacas voam e que algumas virgens engravidam, mas o que não deve é inscrever essa fé no calendário civil. Outra coisa é que os vencimentos auferidos quando se retiram feriados, sejam ajustados na proporção do correspondente aumento de tempo de trabalho anual. Questão quase teórica, é certo, dados os valores em causa, mas bem mais razoável do que submeter-se um governo republicano a falsas leis divinas. Mal por mal, prefiro a história do Pai Natal.


(*) Pedro Barahona de Lemos em “Todos Somos Lázaro”, cap. 2, onde invocam outros nascimentos iguais ocorridos muitas centenas de anos antes de Jesus.

4.12.16

Porque hoje é domingo 81

Era um tempo em que havia mais profetas do que hoje há comentadores políticos ou políticos comentadores e, tal como estes, dedicavam-se a prever o futuro e anunciar desgraças.

Entre eles aparece um tal João Batista de que fala a homilia deste domingo. Lê-se (Mat. 3, 1-12) que ele avisou da chegada do “reino dos céus” e daquele que viria depois dele, referindo-se a Jesus ao que tudo indica.

Duvido que o profeta João Batista tivesse profetizado a sua própria desgraça, ele que seria preso por delito de opinião e extremismo revolucionário, “arrastando multidões” atrás de si.


Mais duvidam alguns historiadores que tenha sido decapitado por capricho duma gaja da corte de Herodes. O certo é que há registo “fotográfico” e a cores, destes horrores à maneira jihadista.

Quanto à mensagem do falecido, ainda em vida - se era vida andar pelo deserto vestido com pelos de camelo e “alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre” - o que ele anunciava era o que nós sabemos que “vai acontecer” daqui a menos de um mês: o nascimento de Jesus!

Não foi grande proeza ter ele profetizado "a vinda" de Jesus, uma vez que eram primos com apenas seis meses de diferença. Pela mesma razão podemos nós “profetizar” que toda a história à volta do “enviado de Deus” é um conluio familiar em que participam os dois protagonistas anteriores e as suas mães, Maria e Isabel, sem esquecermos um tal Gabriel a que chamaram anjo mas que tudo indica estar demasiado relacionado com o emprenhamento destas duas irmãs.

E por aqui me fico antes que uma Salomé qualquer peça a minha cabeça.

3.12.16

Maldita lucidez

O PCP fecha os olhos à natureza autoritária de regimes pró-comunistas com a mesma tolerância e esperteza com que a Igreja fecha os olhos ao fariseismo dos seus sacerdotes. Não há outra forma de sobreviverem como instituições, de tal modo alguns elementos da sua história e a sua doutrina, cumplicidades e contradições, estorvam a sua imagem sagrada.

Mas o que é desarmante para quem quer ou precisa de seriedade nos processos e nos argumentos, é que isto funciona e, em boa medida, funciona bem. Vejam-se as multidões devotas de Nossa Senhora e de Fidel Castro. Acerca deste, lê-se no editorial do último Avante, que teve “uma vida inteiramente consagrada aos ideais da liberdade”…

Enfim, para quem precisa de um mundo racional para viver, este não é o mais adequado. Por isso recomendo: Pensadores de todo o mundo, matem-se!

30.11.16

Elegemos com o coração

À hora a que escrevo este texto, o primeiro-ministro português, republicano, oferece um jantar de boas-vindas aos monárquicos reis de Espanha. A diferença ideológica entre um e outros é tão irrelevante para o convívio político, quanto a ementa.

Como já se viu, a população está mais interessada (exclusivamente interessada?) na beleza do casal Filipe e Letícia e nos seus sorrisos do que nas suas ideias. E não é uma simples questão de “alienação de massas”, é porque eles são a representação viva de um mito alimentado ao longo de milénios: de que os reis e raínhas são deuses humanos.

Mas esta relativização da importância das ideias em relação ao fascínio das pessoas em si mesmas, está presente em circunstâncias mais comuns. Ela pesa também nos critérios com que os cidadãos elegem os seus “ídolos” políticos.

Será que elegemos com o coração?

Foi impróprio mas não foi destituído de verdade o que disse Jerónimo de Sousa acerca da primeira volta das eleições presidenciais: que o Partido Comunista teria melhores resultados se tivesse “arranjado uma candidata mais engraçadinha”. Referia-se à candidata Marisa Matias do Bloco de Esquerda. Mas o fenómeno Mariana Mortágua, do mesmo partido e por maioria de razão, é outro exemplo indisfarçável, embora involuntário, deste efeito de sedução na política.

Bom proveito, magestades! Bom proveito, Portugal!

29.11.16

Fidel visto por Daniel

Não aprecio a postura pessoal de Daniel Oliveira - a falta de respeito democrático com que participa nos debates, para já não invocar snobismos menos públicos. Mas assim como "Deus escreve direito por linhas tortas", o Daniel Oliveira escreveu um "ensaio" no Expresso que diz tudo o que eu diria sobre Fidel Castro, se eu tivesse as suas capacidades - do Daniel, entenda-se.

Seja como for, para aquilo que me pagam, já não é mau que me dê ao trabalho de sugerir a leitura do seu feliz artigo que se lê AQUI.

27.11.16

Porque hoje é domingo (80)

Jesus, Passos Coelho e o diabo

Quando Passos Coelho anunciou que vinha aí o diabo, isto é, o cataclismo económico, não fez mais do que aplicar à política o método que Jesus aplicou à religião quando este ameaçou com a vinda de um novo dilúvio "numa hora em que vocês menos esperam", que traria o “Filho do homem” para o trágico juízo final.

Nas palavras aterradoras de Jesus, “Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado. Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada” (Mateus 24:43-44).

Esta ameaça de que se aproxima o dia em que 50% dos trabalhadores irão morrer ou, metaforicamente, cairão no desemprego, seria sintoma de sadismo apenas, se não fosse acompanhado da receita para evitar o terrível acontecimento. E a receita é servir o senhor que ameaça, obedecer à sua vontade por via da fé - já que a razão é uma maçã envenenada.

No fim desta missa ouve-se o cântico seguinte:


21.11.16

É só fumaça

Donde se prova que aquilo que Bruno de Carvalho expelia pela boca em frente ao presidente do Arouca, era só fumaça:

20.11.16

Porque hoje é domingo (79)

A Igreja Católica invoca neste domingo uma troca de palavras entre alguns cidadãos presentes na crucificação de Jesus e de outros condenados, bem como os comentários dos próprios crucificados que o rodeavam.

O que mais indignava alguns populares, era que Jesus fosse identificado numa tabuleta como sendo “rei dos judeus” e, mais ainda, que se apresentasse como o enviado de Deus anunciado no Antigo Testamento. Se ele é quem diz que é, que se salve a si mesmo – proclamavam os seus detractores.

As opiniões dividiam-se nesta matéria, e até os dois condenados que ao seu lado sofriam a mesma pena, exprimiam opiniões diferentes em tom coloquial como se estivessem à mesa de um bar.

Dois mil anos passados sobre aquela história mal contada, o que pensamos nós? O que pensamos nós, distraídos e entediados, fazendo zapping nos 300 canais de televisão que nos oferecem crimes variados, chacinas, atentados, crianças a morrer sem saberem porquê…

O que tem a história de Jesus de mais trágico e apelativo do que a via-sacra dos refugiados da guerra ou da miséria, naufragando aos milhares e milhares no abismo infernal dos nossos mares, eles que não ambicionam outro paraíso que não seja… a Alemanha?!

Já é tempo de perguntarmos aos porta-vozes de Deus-todo-misericordioso, porque não salva ele estas criaturas já que não quiz salvar-se ele próprio.



Foto da ONU.br

17.11.16

As 7 diferenças

Tenho para mim que Donald Trump não é pato. Nem pato Donald. É mais Tio Patinhas.

Com quem não se parece é com Obama, como este acaba de dizer na oportunidade da visita à Grécia. Isso desafia-nos para o tradicional passatempo de descobrir "as 7 diferenças" mais relevantes.

Imagem composta para este blogue

16.11.16

Por uma Web Summit política

Assim como um polícia que leva um criminoso algemado, está, ele próprio, preso ao criminoso, também os EUA, libertando-se da Europa deixariam a europa mais livre.

Quanto do envolvimento europeu em conflitos não resulta exactamente da dependência política em relação à América do Norte? A autonomia geopolítica europeia permitiria ficar de fora da estratégia imperialista dos EUA e assim do seu campo de batalha permanentemente activo. E permitiria uma política de alianças mais conforme aos nossos próprios interesses.

Eu sei que uma tal autonomia europeia seria mais complexa do que uma “simples” redução de verbas atribuídas pelos norte-americanos à NATO, mas se “o mundo mudou” realmente, talvez se torne pertinente pensar sobre o assunto. Mais tarde ou mais cedo, o impossível torna-se inevitável – veja-se o eurocepticismo! – e quem vai à frente vê melhor.

O pior de tudo, convenhamos, é esta cobardia intelectual que nos mantém presos a ideias dominantes. Para quando uma "Web Summit" dedicada ao progresso político?

15.11.16

Trump contra Trump

A expulsão dos imigrantes nos Estados Unidos da América mais parece uma falsa questão, por muito respeitáveis que sejam as preocupações dos próprios e de quem por eles se atravessa no caminho de Donald Trump.

Este tem duas razões para levar à prática o seu “compromisso” eleitoral, e outras duas, pelo menos, para não o fazer.

Ter-se comprometido tão enfaticamente com esta medida e ser normal (em qualquer país) expulsar imigrantes ilegais, são dois argumentos a favor da sua promessa. Mas, por outro lado, a vantagem das empresas norte-americanas em explorar mão-de-obra tão barata e tão servil, pode voltar-se contra os aliados económicos de Trump. Além de que, expulsar mais de dois milhões de pessoas ou mesmo deter a continuação de entradas, teria tanto sucesso, provavelmente, como tem o combate à entrada na Europa de refugiados da Síria e da região.

Eu imagino que seria mais eficaz um plano de desenvolvimento do México com ajuda dos EUA, de modo que os mexicanos não tivessem tanta necessidade de emigrar, mas isto não cabe certamente na cabeça de um “republicano” norte-americano. Duvido até que caiba na cabeça de um “democrata” liberal.

12.11.16

A razão irracional dos americanos


Quando todos tentam descobrir a "razão irracional" da vitória eleitoral de Trump nas eleições dos EUA, ocorrem-me algumas ideias menos abordadas, porventura.

Antes de mais é preciso lembrarmo-nos que Trump beneficia do eleitorado do Partido Republicano, o mesmo que elegeu George Bush filho antes de Obama Se é verdade que o discurso de Trump incomoda muita gente até no seu partido, o eleitorado fecha os olhos aos seus defeitos em nome das supostas qualidades e não vê em Hillary Clinton uma figura convincente ou mobilizadora.

O espectáculo esteve longe de apresentar A Bela e o Monstro. Por outro lado, ele aparece como o candidato de protesto contra a classe política, o marginal contra a profissional de carreira.

O sistema eleitoral não oferece aos cidadãos uma oportunidade real de escolher o seu presidente - isto explica a vitória de Trump apesar de ser menos votado do que Hillary, mas também o facto de ser esta e não outro o candidato do Partido Democrata.

8.11.16

Televisão por dentro (1)

Aviso prévio: “televisão” não é televisor; é do fenómeno e não do equipamento que aqui se trata. É da produção, realização, emissão e recepção.

Quando muito atrever-me-hei a ultrapassar estes limites para fazer comentários sociológicos aos conteúdos.

Não terei preocupações com a sistematização ou estruturação dos assuntos. Muito menos serei exaustivo no tratamento de cada assunto. Deixo isso para os compêndios.

Não há que estranhar, portanto, que traga aqui a questão da Cenografia, isto é, uma questão sobre cenografia em televisão.

Observe-se o cenário antigo do programa "Governo Sombra"


Que diferença faz neste cenário que o programa seja de humor ou de debate político ou desportivo? Nenhuma. Trata-se de uma sala discutivelmente bonitinha que melhor serviria para bar ou escritório moderno. Retirando a mesa serviria até para exibição musical. Para o programa em causa é que não faz qualquer sentido.

Heis senão quando… somos surpreendidos com um “novo” cenário!


Agora é criada, entre a mesa e a parede, uma bancada com gente… Que gente e o que faz ali, não interessa. Alguém achou que os comentadores do programa não tinham interesse e acrescentou-se um novo elemento de animação: um público indiferenciado e adormecido, umas vezes só pernas e outras vezes cabeças a espreitar para o espelho (o monitor onde vêem… a emissão).

Uma vez mais a imaginação não deu para mais do que copiar as manhãs da treta, de todos os canais nacionais e estrangeiros, iguaizinhos na sua parvulez.

Pensava eu que um governo-sombra se reunisse numa cave esconça – e porque não numa caverna, numa gruta? – com um ou dois pontos de luz discretos ao fundo, e uns caixotes toscos cheios de papeis e livros e algumas garrafas vazias. E, em vez daqueles “candeeiros” de filtro cinematográfico, uma sugestão de candeeiros a petróleo ou de velas ou de tochas…

Para falar a verdade toda, eu preferia mesmo uma espécie de cave abandonada, do tipo "occupied house". Mas algum trabalho terei que deixar para o cenografista da TVI24 (com os meus cumprimentos).

30.10.16

Ai que medo - 2

À falta de argumentos políticos, Passos Coelho anuncia o papão. “Gozem bem as férias que em Setembro vem aí o diabo”, disse aos parlamentares do PSD, na última reunião da bancada, antes das passadas férias. E segue com este discurso até que a voz lhe doa ou alguém lha tire, politicamente.

Entretanto, quando um destes dias o ministro das Finanças... da Alemanha veio declarar que a política ia no bom caminho... em Portugal até à saída do Governo de Passos Coelho, parece que tinha "algum" fundamento a profecia do líder do PSD.

29.10.16

Meu caro José Pacheko

Meu caro José Pacheko

V. sabe bem quanto eu contradigo a minha obra anterior, mas também sabe que se a contradigo não a renego nunca.


O texto anterior em itálico podia ser retirado de uma carta de Passos Coelho a Pacheco Pereira, mas não é. Trata-se de Almada Negreiros dirigindo-se a um outro Pacheco, aliás Pacheko, em 16 de Novembro... de 1917.

Quanto à "obra" que aqui me traz também não é da política, é da literatura. Quero registar que Almada Negreiros já escrevia sem forma e sem nexo, digamos assim, muito antes de Saramago e de Lobo Antunes, o António, sendo que ele próprio, o Negreiros, era filho de um António Lobo.

Deste "futurista e tudo", dado às artes plásticas e literárias, transcrevo o texto que segue.

esquerdo 1212... e a sombra a desfazer-se prò sol de brim a salpicar o sol de grãos de chumbo a rodar a quatro e quatro pla direita e réguas cinzentas de varetas de leque de rifa com divisas de brim inútil insignificante a vermelho igual ao zero de chumbo à direita com ela a chorar ao meio-dia co'as janelas fechadas e a porta zangada com o sol sem água no moringo sem ele prà acompanhar à mina d'água-férrea por causa do mal de nem querer merendar amoras nem estrear o xaile novo...

Foto recolhida em jornal i-online

26.10.16

Transportados como porcos

"Somos transportados como porcos!" é a forma como a população do Porto traduz a designação STCP. E como porcos somos obrigados a resignar-nos porque as reclamações não são apenas inúteis, são também impraticáveis.

De resto, se as empresas de transportes tivessem pelos utentes alguma consideração, não esperavam pelas reclamações, cumpriam os horários e prestavam os serviços que anunciam.

As queixas, bem juntinhas, não caberiam na frota. Por isso deixo apenas os dois exemplos mais "frescos". Trata-se de duas tentativas de viagem da Casa da Música para Gaia.

Ontem à noite o autocarro 902 que devia fazer aquele percurso às 22h50... não fez. Ou então perdeu-se no caminho. Hoje, o 903 em percurso idêntico às 21h50, saiu atrasado - o condutor devia ter umas conversas em atraso com algum colega na Casa da Música! - e saiu em velocidade acelerada numa gincana aparatosa pelas ruelas de Gaia, fazendo perigar a segurança das outras viaturas e dos passageiros entre os quais se contavam crianças e pessoas com mobilidade deficiente.

Que se lixe, é Povo! E se for povo contra povo, motorista contra passageiros, tanto melhor: a gente lava as mãos e vai comer uma francesinha ao Capa Negra que fica no caminho.

Na figura seguinte que pretende ilustrar uma tentativa de reclamação, assinala-se ao fundo a vermelho a única coisa que se pode fazer com a reclamação: cancelar!


23.10.16

Porque hoje é domingo (78)

O cristianismo atribui um nome àqueles que fingem prosseguir o bem quando na realidade só fazem bem a si próprios (e aos seus), e tentam denegrir os outros para se valorizarem: é “fariseísmo”. O tema faz as homilias deste domingo, invocando o evangelho de Lucas (18,9-14).

A expressão “fariseísmo” resulta de uma parábola alegadamente contada por Jesus aos seus camaradas, para ilustrar a diferença entre os arrogantes e os humildes. Podia o Mestre ter usado como exemplos a doutora Lagarde e o engenheiro Guterres, mas não era seu costume meter-se com os césares – “a César o que é de César”. De resto, quando Guterres proclama a sua própria humildade, há que saber se está no papel do publicano ou do próprio fariseu…

E se este argumento hermeneutico se coloca em relação a Guterres, não menos se coloca em relação à Igreja de que ele é um distinto militante. Mas talvez seja mais prudente ficar-me por aqui, à imagem de Jesus, além de que é arrogância minha duvidar dos méritos morais dos dois papas a que o mundo está entregue – o religioso e o civil.

18.10.16

Minha proposta para o O. E.

Se a estupidez pagasse imposto, não faltaria ao Estado - a muitos Estados - com que baixar as dívidas e passar de déficit para super-avit. Só continuariam descontentes os porta-vozes não assumidos das confederações patronais - mais do que as próprias, aliás.
Fica a minha sugestão para a discussão do Orçamento do Estado, em curso.

17.10.16

Jornalismo à caça

O nome de Pedro Dias é repetido à exaustão com ou sem necessidade. Onde se usaria normalmente uma forma como “ele”, “este”, “aquele”, ou outro modo  de designação como “o autor de”, “o suspeito”, etc., o próprio nome é usado até à náusea para emprestar às narrativas a força dramática que lhes falta. É um sintoma da subjectividade com que repórteres e pivots do audiovisual tratam o assunto.

O cuidado legal de o tratar como “presumível” assassino, isso então só voltará ao código deontológico do jornalismo quando já não houver memória de Pedro Dias. É “a caça ao homem” levada a cabo pelos orgãos de… informação.
Neste contexto de irracionalidade apetece transcrever as declarações do “homicida de Aguiar da Beira” em entrevista… simulada! a este blogue.

ENTREVISTA
CP (Contém Palavras) – É verdade que matou a tiro um guarda e um civil neste processo em que está a ser procurado pela Polícia?
PD (Pedro Dias)- Sim, é verdade, mas é preciso compreender as circunstâncias.
CP – Isto tudo começou quando o Pedro foi abordado pela GNR junto ao edifício inacabado de um hotel, em Caldas da Cavaca, Aguiar da Beira…
PD – O que é que levou a GNR ao meu encontro naquele lugar? Essa deveria ser a pergunta fundamental para compreender o desenlace desta tragédia.
CP – A GNR diz que a patrulha se encontrava já ali “a fazer operações no terreno” quando encontrou o automóvel com o Pedro Dias. Estaria a fazer o patrulhamento de rotina…
PD – Admitindo que sim, que apareceram ali por acaso… Quando se aproximaram de mim, apontaram as suas armas e um deles disparou.
CP – Um dos guardas disparou?
PD – Exactamente. Só que em vez de me atingir a mim, atingiu um colega dele. Parece que isso já foi reconhecido por eles próprios.
CP – Sim, mas não se disse que esse foi o primeiro tiro a ser disparado.
PD – Pois não, o que se diz é que fui eu que disparei primeiro. Mas eu só disparei depois de me tentarem alvejar primeiro. Quando vi que me queriam matar, tive que atirar para me defender.
CP – E porque é que a GNR havia de querer matá-lo assim?
PD – Eles receberam uma informação via rádio, de que eu seria um tipo muito perigoso, e terão ficado assustados. Isso pode ter levado a uma precipitação.
CP – Portanto a sua versão é que um dos agentes se precipitou, disparou um tiro sem razão e você ripostou em sua defesa.
PD – Exactamente.
CP – Mas o guarda que disparou terá visto algum gesto suspeito da sua parte ou uma arma…
PD – Estava muito nevoeiro. É possível que isso o tenha desorientado, não sei.
CP – Mas o Pedro estava armado!?
PD – Sim, estava. Mas eles não sabiam. De resto, se não estivesse armado tinha sido morto.
CP – E como explica a morte do civil…
PD – Quando eu tentava arranjar alimentos e furtar um carro para fugir,  fui surpreendido pelos moradores que reagiram e eu tive que neutralizá-los.
CP – A partir daí…
PD – Foram as circunstâncias…

8.10.16

Assim falou Arnaldo de Matos

O nosso Partido (MRPP) tem estado a pagar uma dívida incomensurável, contraída pelo grupelho antipartido do Bando dos Quatro, sob a direcção bicéfala - mas acéfala – do anticomunista primário Garcia Pereira (à esquerda) e do ignorante Conceição Franco.

MARCELO

Marcelo, o penduricalho dos afectos ensebados, não apareceu no funeral dos rapazes (dos Comandos) nem se deslocou aos enterros para consolar as famílias,ele que passa a vida a beijocar este mundo e o outro…

Todos fugiram com o rabo à seringa, todos sacudiram a água do capote, todos se escapuliram à sua responsabilidade nos trágicos acontecimentos. Ora, quem matou os jovens comandos?

CORRUPÇÃO

Três secretários de Estado do governo de António Costa (…)se deixaram comprar pela Galp para verem gratuitamente jogos da selecção portuguesa de futebol em França, no último campeonato da Europa.

Qualquer destes três vendidos e comprados trabalha para a Galp e demais empresas monopolistas no governo. Não há aliás nenhum governo capitalista burguês que não seja um governo de corruptos, gatunos e ladrões.

CONSTÂNCIO

Constâncio que é responsável pelo começo do descalabro total do sistema financeiro nacional…

GATUNOS

Não se esqueçam de comprados e vendidos como Vítor Gaspar, ministro das finanças de um governo de gatunos dirigido por Passos Coelho e Portas, e hoje no Fundo Monetário Internacional, onde ainda receberam grandes tachos dos monopólios Álvaro Santos Silva, na OCDE, António Mexia e Catroga, nos monopólios da electricidade adquiridos pela China, e de Maria Luís Albuquerque, ao serviço do sistema bancário britânico. E sobretudo não esqueçam gatunos como Durão Barroso, que começou o treino a assaltar e a roubar mobília na Faculdade de Direito de Lisboa e agora está no Goldman Sachs, a assaltar bancos na União Europeia, o tal que foi durante oito anos presidente da respectiva Comissão. 


PCP E BLOCO

E sobretudo não se esqueçam: o partido social-fascista de Jerónimo de Sousa apoia, apoiou e apoia… um governo que já soma três declarados corruptos no activo.

Não é de admirar: pois foi um ex-ministro do PCP de Jerónimo, um tal Pina de Moura, quem privatizou a Galp, para a qual depois entrou como administrador, a ganhar 12 vezes mais do que ganhava como ministro das finanças vendedor…


A ideologia de Catarina e do seu Bloco é uma ideologia fascista ao retardador…

Ah, mas então digam-me lá: isto não é tudo um putedo?!


(Textos de Arnaldo de Matos no seu “Luta Popular” de Agosto de 2016)

Putedo é também, digo eu, Arnaldo de Matos insinuar que Pina Moura foi ministro do PCP, quando a verdade é que foi ministro do PS depois de ter saído do PCP!

6.10.16

Guterres ainda não ganhou



Alguém diz a Guterres: 
- Então já ganhaste?!
Guterres responde:
- Não, só ganho a partir de Janeiro...


Dos cinco "Grupos Regionais da ONU", o Grupo da Europa de Leste é o único que nunca teve um secretário-geral na ONU. Isto não será indiferente ao aparecimento de duas candidatas da Bulgária.

Afinal e em última análise, quem escolheu Guterres não fui eu nem foi Marcelo, foi um tal Conselho de Segurança da ONU, do qual têm direito a veto os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, a Rússia e a República Popular da China, isto é, 2 pró-Leste e 3 pró-Ocidente, o que confere a estes um poder decisivo.

5.10.16

Proclamação da 4ª República



Confesso que hesitei entre Mariana Mortágua, Jerónimo de Sousa e António Costa para colocar na imagem: Costa seria o mais indicado por ser o principal protagonista, Jerónimo pela capacidade física para transportar a bandeira, e até Catarina Martins como terceira figura da "Geringonça". Mas ninguém me levará a mal por ter escolhido a Mariana. Nem a própria, espero, a quem testemunho o meu devido e merecido respeito e admiração.

1.10.16

De Ban Ki-moon a Jerónimo de Sousa

Ban Ki-moon tem tanta importância para a ONU como Jerónimo de Sousa para o PCP, isto é, quase nenhuma. Afinal eles são formal e realmente secretários e não líderes; líderes são aqueles que os “elegeram” para desempenharem as tarefas de quem os dirige na sombra. Se está bem assim ou não, é outra questão.

Numa altura em que António Guterres é sacralizado pela cúria nacional, qual Madre Teresa de Calcutá, ou não viesse da mesma Igreja esta suspeita exaltação geral, é tempo de pensar que influência tem de facto o secretário para o rumo da instituição.

“À deriva na irrelevância”, é como alguns (ESSI) classificam o secretário-geral da ONU que outros comparam a uma enguia na forma “diplomática” como se esquiva às questões polémicas – e já não estou a fazer comparações com Jerónimo de Sousa, embora pareça!

Irrelevante não será que tenha vindo da Coreia do Sul ou mesmo que se tenha formado na da Universidade de Harvard. Mas menos ainda que tenha apoiado Bush e incitado o envio de tropas sul-coreanas para o Iraque…

Guterres vem de um país sem relevância geo-estratégica, licenciou-se no Instituto Superior Técnico de Lisboa e foi Alto Comissário para os Refugiados a seguir a um senhor de má reputação política e moral.

“O nosso candidato” é um velho amigo do padre Milícias que o casou, do Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, António Reis, que o casou com o PS, e de Marcelo Rebelo de Sousa que recentemente o designou Conselheiro de Estado.

Guterres não é génio nem santo como muitos querem fazer crer por razões estratégicas de diferentes matizes, nem é pessoa a quem eu apertasse mão, sei eu porquê, mas por mim pode ser secretário do que ele quiser. Já me preocupa mais o Jerónimo de Sousa… Mas quem sou eu, “folha seca” para este, desprezível trabalhador para aquele?!

30.9.16

Baralho espanhol

O confronto entre o PP de Rajoy e o PSOE de Sanchez ganhou uma dimensão tal que deixou ambos sem margem de manobra. A saída política foi bloqueda. Rajoy reclama o direito de governar, invocando a legitimidade de partido mais votado – ele tem um Ás; Sanchez reclama o direito de se opor a tal governo, invocando a sua discordância com o projecto político do Partido Popular – ele tem um trunfo.

Ambas as posições são legítimas. No entanto, a impossibilidade que tem cada um deles de formar alianças maioritárias, inviabiliza uma solução de governo. Uma aliança PP/Ciudadanos (137+32) é insuficiente; uma aliança PSOE/Podemos (85+71) é insuficiente mas também inviável.

No jogo contam muitas outras cartas, é certo, nomedamente os duques regionais, e nas mãos de Rajoy só faltam seis pontos, digo seis deputados. Mas é suficiente para perder o jogo. Por outro lado, Ciudadanos que entrou no jogo como um Joker, parece agora pouco inclinado a fazer parte do mesmo naipe do Podemos para uma eventual coligação baseada no PSOE. Por este caminho que vai fazendo andando, não seria de admirar que acabasse no Rei a jogada final.

No meio deste jogo, assistimos no passado dia 28/9, à demissão colectiva de funções, de um número importante de quadros destacados do PSOE. Pelo lugar que ocupam e pelo número de demissões, esta iniciativa terá repercussões inevitáveis na autoridade do líder e é mesmo essa a intenção: forçar a saída de Pedro Sánchez.

A opinião mais corrente parece ser de que este afastamento de Sanchez tenha em vista desbloquear a formação de um governo do PP através da abstenção dos deputados socialistas, mas eu que raramente acerto neste tipo de previsões – fica o aviso! –, estou mais inclinado para julgar que tudo desembocará numa coligação PP/PSOE sem Sanchez.

24.9.16

Da Rússia contra a Rússia



José Milhazes, nostálgico da União Soviética que tanta falta faz para estimular os sus clientes, assume ainda assim a missão religiosa de combater os partidos comunistas do Minho aos Urais, e ocupa um lugar no altar do Observador. É o que ele sabe fazer!

O José Milhazes mostra definitivamente ao que vem, o que o move. Qual filho pródigo, regressa com a batina de jornalista e vê em Fátima, qual pastorinho de antenho, a salvação da sua obra. 

Com alguma sorte ainda o veremos entrar para um convento e fazer voto de silêncio. Amén.

A imagem apresentada é uma composição deste blogue

20.9.16

Saraivada literária

Muitos daqueles que trabalham para a IMPRESA de Balsemão, isto é, do Expresso, do JL, da Visão, da Caras, das cinco SIC’s, etc., estão indignados com o caracter moral de José António Saraiva.

Este é o homem que dirigiu o jornal Expresso durante vinte e um anos (1985-2006), o homem que se considera dono dos jornalistas do semanário, o homem que andou todos aqueles anos “a fazer opinião” nas cabeças dos cidadãos portugueses, sob a responsabilidade, confiança e amizade de Francisco Pinto Balsemão.

O Expresso conta em média cerca de 585.400 leitores com predomínio na Grande Lisboa. Recentemente orgulhava-se de andar “há 40 anos a fazer opinião”, o que é uma verdade mas denunciava demasiado a sua missão ideológica. A sua e a dos outros, certamente. “Talvez” por isso, mudou de lema para “Liberdade Para Pensar”, o que “corrige” e contraria a ideia de que está aí para influenciar ou condicionar o pensamento dos leitores e eleitores.

“Não é por se chamar cão ao gato que o gato começa a ladrar”. Mas alguma importância terão os lemas, para serem usados e mudados com tanto empenho.

Reconheço a importância social que o semanário teve antes e depois da revolução democrática de 74 e a competência técnica dos seus colaboradores em geral. Actualmente é o jornal de José Gomes Ferreira e Miguel Sousa Tavares, mas também de Nicolau Santos e de Daniel Oliveira - do centrão social-democrata a que alguns não-alinhados, digamos assim, emprestam uma imagem de pluralismo mais abrangente.

Também reconheço o direito e até o interesse público de um jornal com a sua matriz ideológica. “Independência” é que soa a falso neste como em qualquer outro jornal. Independência de quê? Do poder político não é certamente: Pinto Balsemão é o associado mais antigo e o mais influente do PPD/PSD e continua a emprestar a sua presença e apoio ao seu partido.

Balsemão aconselhava-se com José António Saraiva sobre os directores a nomear para os seus orgãos de comunicação, como este relata no livro em desapreço.

Na roda de amigos a que ambas as personagens anteriores pertenciam, entravam figuras tão relevantes para “fazer opinião” e dar emprego!, como Emídio Rangel (TSF/SIC/RTP) José Eduardo Moniz ou José Sócrates… E é aqui que a porca torce o rabo: quem pretendem proteger os novos sicatários jornalísticos de Saraiva? Porque é que não extraem nada sobre a cumplicidade partidária na gestão da “Comunicação Social”?

Merecem-se uns aos outros, muitos deles.

19.9.16

Censura à nossa moda

"Liberdade de Informação" já temos - no quadro do sistema político vigente... Agora "só" falta a liberdade de sermos informados!



15.9.16

Crucifica-o!, disse o povo.


O juiz Carlos Alexandre já foi responsável por processos como a Operação Furacão, BPN, Máfia da Noite, Face Oculta, Remédio Santo, CTT, Freeport, Submarinos, Apito Dourado, Portucale, Monte Branco, Labirinto (Vistos Gold)…

Pelo esforço, dedicação e coragem, num serviço público de elevada responsabilidade e importância, o juiz devia receber uma distinção. Em vez disso escarram-lhe na cara os zelosos fazedores de opinião, desde os mais suspeitos aos mais imprevisíveis, ora em defesa de interesses inconfessáveis, ora para ganharem a medalha da "imparcialidade" e da "legalidade", por mais paradoxal que isso seja.

Entretanto a corrupção agradece a uns, paga a outros e prossegue cantando e rindo.

11.9.16

Comandos e comandantes

A primeira questão não é saber se as práticas que deram origem à morte dos dois instruendos do curso de comandos, eram ou não adequadas – os resultados mostraram à evidência que não eram! A questão é saber de que estão à espera os responsáveis, desde os instrutores e director de Formação até ao General Chefe do Estado-Maior do Exército!

Por sua vez, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, não tem muito tempo para decidir pelas respectivas demissões e apuramento posterior de responsabilidades criminais. Nada que o Comandante Supremo das Forças Armadas possa resolver com umas palavrinhas de condolências e um sorriso afectuoso para televisão ver.

«Quem tinha poder para decidir decidiu, e bem. Há o pleno apoio do Comandante Supremo das Forças Armadas às duas decisões tomadas: à primeira decisão, a da abertura de um inquérito, e à segunda decisão, relativamente aos cursos». É curto, Marcelo, é curto! Afinal você está com Jesus ou com Pilatos? Chegou a hora de sujar as mãos, Presidente.

A segunda questão não é saber se deve haver ou não tropas especiais, é saber que utilidade têm e a que normas obedecem. Quem responde pelo seu cumprimento, já ficou dito.

Quanto ao resultado de um processo de investigação iniciado “em tempo útil e com competência", pelo Exército, faz rir quem como eu teve que frequentar durante três malditos anos, aquela instituição hierarquicamente agressiva e blindada.

5.9.16

Palácio de Cristal

 Se trago aqui esta recomendação é porque este ano a Feira está linda - o que nem sempre aconteceu... E os jardins do Palácio de Cristal, eles próprios estão mais vivos e mais alegres com a Feira e as outras iniciativas associadas. 

31.8.16

Cadê os votos do povo?

(Clique na imagem para ampliar)

21.8.16

Porque hoje é domingo (77)

Nas missas católicas deste domingo é invocada em versões naif e com as mais fantasiosas especulações sacerdotais, uma passagem do Evangelho (Lucas, 1) que trato de comentar.

Segundo a lenda, Isabel que era estéril e já com idade avançada, deu à luz um menino que se chamou João, e seis meses mais tarde, a prima dela, Maria, que era virgem, deu à luz Jesus.

Além da proximidade dos acontecimentos, outra coincidência se assinala: em ambos os milagres o respectivo anúncio foi feito por um anjo que disse chamar-se Gabriel.

Segundo contam os evangelistas sem que saibamos quem lhes contou a eles, as duas primas muito se alegraram e juntas agradeceram a Deus, mostrando-nos que o poder de Deus é infinito! Ou a imaginação dos evangelistas.

Nota curiosa é que o anjo que anunciou o nascimento de João, fizesse questão de informar expressamente o futuro pai, Zacarias, que o seu Joãozinho, “não beberia vinho nem bebidas fortes” quando fosse grande, o que nos leva a suspeitar que Jesus foi pouco escrupuloso nas bodas de Caná. Adiante; pela minha parte está perdoado.

Mais se sabe que o idoso pai de Joãozinho deixou de falar até ao nascimento do menino e que a idosa mãe se fechou em casa durante seis meses depois do milagroso nascimento. Tanto secretismo – passe o aparte – faz-nos lembrar o voto de silêncio de Lúcia, a “vidente” de Fátima!

Consumado o nascimento de João, foi o mesmo anjo Gabriel anunciar a Maria idêntico milagre – não que esta fosse velha (infértil, nunca o saberemos!) mas porque fosse virgem segundo testemunho dela própria...

Aqui chegados, as coisas ganham uma inegável importância política. Se não, reparem em que termos é que o mensageiro falou do nascimento inusitado de Jesus: “o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

Pela minha parte, fico por aqui. O resto deixo à consideração de quem me ler.

12.8.16

Paris 3ª Parte

“Malgré tout”, os portugueses devem a Paris e aos franceses em geral, mais do que devem talvez a qualquer outro povo europeu.

A foto seguinte bem podia representar essa homenagem se as manifestações de vitória pessoal dos refugiados políticos e económicos fossem tão expressivas como as vitórias no futebol.


Com este reconhecimento sincero fecho o tríptico sobre a cidade.

«Finalmente!!!!! Isto pode ser o penico da Europa, mas que felicidade respirar a liberdade. Finalmente!!!!». Reproduzo de memória as primeiras palavras do Luelmo, na carta que recebi de Paris, dias depois que eu dei pela sua ausência no quartel e na casa que alugámos em Tavira. Seria 1970.

O Luelmo fugiu! O sacana pirou-se e nem me perguntou se eu queria fugir também. Já não estaria em Paris quando eu recebi a carta, que a prudência assim mandava. Creio que foi dali para Inglaterra e depois para a Suécia, aceitando vários trabalhos, mas disso não direi mais porque é falar da vida de terceiros.

Mais tarde, quando eu já “militava” num outro quartel e a mobilização para a guerra de África estaria por poucas semanas, a minha disposição para “dar o salto” já só dependia de saber como fazê-lo. Nunca o soube. Logo, o único salto que estava ao meu alcance era mesmo o que me destinava o regime: “para Angola, rapidamente e em força”!

Mas quantos Luelmos ficaram definitiva e justamente agradecidos por serem acolhidos ou poderem transitar por França para outros destinos democráticos! E quantos exilados políticos, como o professor Manuel Valadares em 1947, de quem fiz um documentário para a RTP. E quantos emigrantes clandestinos como o tio Joaquim, nomeadamente na grande vaga dos anos sessenta mas ainda hoje.


Deixo apenas referências pessoais porque não faltam fontes de informação acerca da emigração económica portuguesa para França e das mais prestigiadas figuras públicas dos nossos dias que encontraram em Paris refúgio para as perseguições salazaristas. Menos de uma semana antes do 25 de Abril de 1974, por exemplo, Álvaro Cunhal e Mário Soares, entre outros, estiveram reunidos em Paris!

Leia-se, enfim, nas expressões irónicas e sarcásticas dos meus artigos anteriores, uma homenagem à cultura de Liberdade que a França representa e apresenta.

10.8.16

Paris não está a arder

Chovia em Paris enquanto Portugal, esse sim, estava a arder. O autocarro que me levou do aeroporto de Orly, terminou a sua viagem e a minha no Arco do Triunfo, um enorme calhau perfurado que parece ter caído de outro planeta, meteorito que aterrou no princípio do século XIX, sepultando muitos soldados desconhecidos de Napoleão e devastando uma larga área em seu redor.

Quase cem anos mais tarde, os franceses mandaram construir um brinquedo gigantesco que viria a inspirar as torres de lançamento de foguetões - digo eu. A isto deram o nome do seu projectista, o senhor Eiffel. Tivessem os franceses menos arrogância e mais imaginação e fariam como os portugueses que deram o nome de D. Luís à ponte projectada pelo mesmo engenheiro na cidade do Porto – apesar de tudo…

Quem fala assim dos grandes monumentos europeus, como eu falo, o que aprecia mesmo é gastronomia, já se vê. Mas que desilusão. À saída camioneta, descendo do "meteorito", pelos Campos Elísios, valha-nos Alá: tudo é caro e quase nada presta.

Aproveita-se o espectáculo que se oferece, por exótico, das muitas muçulmanas que por ali passeiam, mil rostos lindíssimos e olhos bem cuidados que espreitam pelos únicos rompimentos das vestes que usam e que mais me parecem orgulhosos sinais de identidade e apelos à curiosidade, do que imposição religiosa.

Serve esta referência para ligar o post, digo artigo, ao anterior, está-se mesmo a ver.


A foto-montagem foi criada para este blogue.

7.8.16

Pic-nic em Paris

(Esta foto, retirada do Google, reproduz fielmente o local apenas; não a situação abaixo relatada)

Até que nos dissesse que era muçulmano, a conversa andou pelas noções de ofensa e de perdão segundo a sua religião, tudo a propósito de estarmos a beber cerveja no pic-nic que improvisámos numa margem do Sena.

Que não era permitido beber cerveja ali! A princípio pasmámos, depois perguntámos: - Mas onde é que está isso escrito?

O segurança apontou para um pequeno cartaz discretamente afixado a poucos metros dos bancos de pedra que nós ocupávamos. Olhamos todos três ao mesmo tempo para o sítio que o homem apontava e lá estava o aviso.

Espantoso: numa cidade ameaçada e atacada violentamente por terroristas, aqueles três pacíficos turistas, tão perigosos como os três pastorinhos de Fátima, eram abordados pelas autoridades para a proibição de partilharem uma cerveja no sítio mais discreto e mais deserto das margens do Sena.

Depois veio a tolerância – desde que não se visse a lata de cerveja – e um início de conversa informal: donde vínhamos, da relação de Portugal com países africanos… É altura de esclarecer que a origem africana do segurança lhe estava estampada na pele, ao que ele acrescentaria ser libanês de origem e muçulmano de confissão religiosa.

Moral ateia da história: o que o homem queria não era exercer represálias pela transgressão alcoólica e nem mesmo converter-nos ao islamismo; queria conversa apenas. E talvez um pouco de cerveja que entretanto se escoara conforme o que estava destinado por mim, pelas minhas amigas e certamente por Alá.

1.8.16

Terrorismo e religião

A credibilidade é a chave do sucesso da banca… e da religião.

Na estratégia da guerra, mas sobretudo do terrorismo, a legitimidade conferida pela religião para a crueldade, o genocídio, o extermínio, é indispensável lá onde não haja a capacidade de atingir o mesmo através de meios militares e para-militares como tiveram Hitler e Estaline entre outros.

Só a religião tem a capacidade de incutir nos indivíduos o fanatismo necessário para o grau de crueldade que o terrorismo exige. Só a religião oferece uma razão à delinquência. Afinal, como se lê no Alcorão (Sura 8: 13-17), “Não fostes vós quem os matastes; foi Alá"!

Ao invocar motivações ou justificações religiosas, os terroristas levantam o véu que encobre o papel histórico das igrejas. Estas, ameaçadas nos seus negócios, procuram na fusão de iniciativas – tal como a banca – uma estratégia de reforço.

Até que "os lesados" se apercebam da natureza do contrato que fizeram com a religião.

31.7.16

Espreitando por trás do Pokemon

Sobre o "Pokemon Go", recorto em "resistir.info" este artigo de Sergey Kolyasnikov :

«Já dei três entrevistas sobre isso, de modo que agora tenho de me aprofundar nas fontes primárias.

Programador do jogo: Niantic Labs. É uma start-up da Google. Os laços da Google com o Big Brother são bem conhecidos, mas irei um pouco mais fundo.

A Niantic foi fundada por John Hanke, o qual fundou a Keyhole, Inc. – um projecto de mapeamento de superfícies cujos direitos foram comprados pela mesma Google e utilizados para criar o Google-Maps, o Google-Earth e o Google Streets.

E agora, atenção, observe as mãos! A Keyhole, Inc. foi patrocinada por uma empresa de capital de risco chamada In-Q-Tel , que é uma fundação oficialmente da CIA estabelecida em 1999. As aplicações mencionadas acima resolvem desafios importantes:

Actualização do mapeamento da superfície do planeta, incluindo estradas, bases [militares] e assim por diante. Outrora tais mapas eram considerados estratégicos e confidenciais. Os mapas civis continham erros propositais.

Robots nos veículos da Google Streets olhavam tudo por toda a parte, mapeando nossas cidades, carros, caras...

Mas havia um problema. Como espiar dentro dos nossos lares, porões, avenidas com árvores, quartéis, gabinetes do governo e assim por diante?

Como resolver isso? O mesmo estabelecimento, Niantic Labs, divulgou um brinquedo genial que se propagou como um vírus, com a mais recente tecnologia da realidade virtual.

Uma vez descarregada a aplicação e dadas as permissões adequadas (para acessar a câmara, microfone, giroscópio, GPS, dispositivos conectados, incluindo USB, etc) o seu telefone vibra de imediato, informando acerca da presença dos três primeiros pokemons! (Os três primeiros aparecem sempre de imediato e nas proximidades).

O jogo exige que você dispare para todos os lados, atribuindo-lhe prémios pelo êxito e ao mesmo tempo obtendo uma foto da sala onde está localizado, incluindo as coordenadas e o ângulo do telefone.

Parabéns! Acaba de registar imagens do seu apartamento! Preciso explicar mais?

A propósito: ao instalar o jogo você concorda com os termos do mesmo. E não é coisa pouca. A Niantic adverte-o oficialmente: "Nós cooperamos com agências do governo e companhias privadas. Podemos revelar qualquer informação a seu respeito ou dos seus filhos...". Mas quem é que lê isso?

E há o parágrafo 6: "Nosso programa não permite a opção "Do not track" ("Não me espie") do seu navegador". Por outras palavras – eles o espiam e o espiarão.

Assim, além do mapeamento alegre e voluntário de tudo, outras oportunidades divertidas se apresentam.

Por exemplo: se alguém quiser saber o que está a ser feito no edifício, digamos, do Parlamento? Telefones de dúzias de deputados, pessoal da limpeza, jornalistas vibram: "Pikachu está próximo!!!" E cidadãos felizes agarrarão seus smartphones, activarão câmaras, microfones, GPS, giroscópios... circulando no lugar, fitando o écran e enviando o vídeo através de ondas online...»

29.7.16

Não há apoios grátis

Hillary Clinton ganhou as eleições primárias do Partido Democrático dos Estados Unidos da América. Não se sabe ainda se ganhará as presidenciais. O que está apurado é que ela não ganhou a América.

Os EUA foram apanhados pela onda inovadora que inunda a Europa: uma onda que varre os partidos convencionais e os políticos tradicionais e que levanta, das profundezas, águas refrescantes.
Bernie Sanders protagoniza esta mudança nos Estados Unidos da América, um horizonte outro, uma esperança para a juventude e os mais desfavorecidos da chamada sociedade das oportunidades.

Com ele emergiu um grito de protesto, uma exigência de democracia real, uma reclamação popular genuína que quer resistir ao refluxo da corrente progressista e disso mesmo dá mostras na forma como reprova o recuo do candidato "Bernie" Sanders. Mas a batalha eleitoral não é a guerra e o combate precisa de estratégia adequada às circunstâncias.

É neste plano que parece situar-se o senador “Bernie”, crítico das políticas externas dos EUA, desde a Guerra do Vietnam até à invasão do Iraque, entre outras, e defensor de políticas públicas de carácter socializante.

Nas eleições primárias em curso, ele obteve expressivos resultados que não chegam, porém, para ganhar a Hillary Clinton. Por isso resolveu expressar o seu apoio a esta candidata, enquanto mal-menor (expressão minha) mas negociando as suas condições, ao que tudo indica, e desta forma fazer pesar os votos que recebeu.


Se o descontentamento de alguns dos seus apoiantes, por esta “traição”, se traduzir em abstenções expressivas e assim der vantagem a Donald Trump, o mundo irá aprender, sabe-se lá com que consequências, quanto custa o radicalismo estúpido – aquele que a direita portuguesa tanto se esforça por cultivar nos caminhos da “geringonça”.